Cruzamentos

quarta-feira, março 30, 2011

Hoje, no Ar.Co.: cinema e abstracção

Viking Eggeling, 4 desenhos para o filme Symphonie Diagonale, 1919-1920, Kunstmuseum Basel

Hoje, a partir das 21 horas, o segundo programa de "Cinema e Modernismos", dedicado à exploração da "abstracção" pelo cinema. Exploração pictórica, cinética e musical - para além de "propriamente" cinematográfica.

Para mais informação, comece-se pela entrada "Abstracção, movimento, música, máquina: cinema" e pelas etiquetas "Cinema" e "Abstracção". Uma lista geral de filmes e uma bibliografia nos Google Documents, no PDF "Cinema e Vanguardas", se bem que de âmbito mais alargado do que aquele que é explorado pela aula de hoje - havendo problemas no acesso ao Google Documents sugiro:
  • Se tiverem uma conta nos Google Documents, façam "log out" - provavelmente, será, também, necessário "limpar" a "cache" e os "cookies".
  • Se não conseguirem ver o documento "online", façam o "download", mesmo que não pretendam guardar o ficheiro.

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5 Comments:

  • Agora à parte as aulas – e ainda tudo a ver com elas –, o que nós estamos em pulgas para saber, no momento actual, é também a SUA opinião, que muito prezamos, sobre se o Homem do Copo de Vinho é de Nuno Gonçalves ou Fouquet, nos Primitivos.
    O título da exposição é irónico a vários níveis: ela não só chama mais directamente Primitivos ao Estado Novo da exposição de 1940, que além de ter um desconhecimento da História da Arte tão gritante que roça a caricatura – e de maniacamente narcísico –, apropriou o termo Primitivos no sentido Visigótico-Viriático da coisa (“nós, ditadura, é que somos o futuro, os modernos, os desenvolvidos” – pelo contrário, vem hoje a verificar-se que José de Figueiredo estava certo acerca de muita coisa), como também é capaz de conter (contém mesmo) alguma ironia em relação aos “primitivos contemporâneos” portugueses, no sentido social, político, museológico (os nossos curadores institucionais são cargos políticos vazios de ideias, que aproveitam ideias e sugestões de outros sem dar crédito a ninguém e assim constroem e vaidosamente ostentam carreiras de embuste) e sócio-histórico da questão, já que a exposição foi proposta em 2009, com uma mistura de sentimentos que oscilavam então entre o meticuloso cuidado, o simbolismo rigoroso e o sarcasmo franco. Para não falar da ironia-resposta europeia que esta exposição foi intrinsecamente pensada para ser, em relação à exposição dos “Primitivos Franceses” de 2004 (daí ter-se optado por “Os Primitivos Portugueses” e não simplesmente “Os Primitivos”, como foi também intitulada a exposição que decorreu em Londres, nesse mesmo ano de 2009 - e eu por lá andava). Quis relembrar-se os “Primitivos” parisienses de 1904 e como o Homem do Copo de Vinho se tornou – apresentado então como sendo de Fouquet –, muito ironicamente, republicaníssimo símbolo francês. José de Figueiredo chamou a atenção para o facto de “ser Fouquet coisa nenhuma” e estava, ao menos nisso, repleto de razão. A cor das paredes também tem uma razão – várias razões - de ser, que se inserem no contexto de discussões contemporâneas. Era necessária sala de documentação pelo seu absoluto interesse histórico e por outra razão fundamental - impedir novos aproveitamentos político-propagandísticos. Separar as águas para o público. A reflectografia de infravermelhos permite verificar que não só existia escola de pintura (aliás múltiplas oficinas, com traços distintivos), como também escola de desenho! Saber que o Ecce Homo tem no mínimo mais 60-70 anos do que se julgava, mas mais provavelmente +100, implica ter de se explicar o que está antes dos painéis, mas também onde estão as obras que medeiam entre os painéis e o Ecce Homo. E terminar a exposição com ele, quando em 1940 se associada aos painéis (“Deus, Pátria e Família… Real”) na mesma sala, é simbólico também.

    By Anonymous alexandra_pereira, at 12/4/11 13:41  

  • Na minha opinião, deveria constituir-se – e as Janelas Verdes parecem ser o lugar ideal para isso – uma galeria nacional de pintura decente, com estas pinturas e outras, espalhadas por esse país e essa Europa – e não só, mas sobretudo nas colecções europeias andam algumas pinturas mal identificadas/erradamente apropriadas, que a nós nos parece ter sido muito mais fácil etiquetar como simplesmente “desaparecidas no terramoto”, o que é um expediente de preguiçosos, isto se quisermos ser politicamente inócuos e não explorar mais a fundo as implicações de tais opções –, uma galeria de pintura permanente, à qual investigadores, artistas e alunos (pelo menos, senão o público em geral) pudessem aceder gratuitamente sempre que quisessem, para as estudar. Não fazer tal coisa, simples e básica, mas até o oposto (ex: retirando descontos a estudantes de artes nos museus) é o primeiro passo para assassinar as artes dum país – e essa é uma das razões pelas quais elas têm sido óbvia e deliberadamente assassinadas. Retirar aos artistas matéria de trabalho, a medula sobre a qual se constroem novas gerações prolíficas – para negar, continuar, seleccionar ou recusar tudo o que os anteriores fizeram, mas antes de mais: Conhecendo-os! Tendo fácil acesso às suas obras! Estudando-as!
    Bons tempos esses, em que José de Figueiredo andava à pancada na Brasileira para defender a nossa pintura e os escroques e falsários tomavam simplesmente um táxi para se suicidarem no Campo Grande.
    Para mim, o Homem do Copo de Vinho é de Nuno Gonçalves, entre outras razões mais complexas, porque:
    a) aqueles pescoços são inconfundíveis;
    b) o recorte da orelha e o nariz do Homem também são utilizados (exactamente iguais) numa ou outra personagem dos painéis;
    c) pelo tratamento das sombras no Homem (sombra do chapéu) e nos painéis (sombra das lanças);
    d) mesmo tipo de tratamento dos reflexos no copo de vinho que existe nos painéis (armaduras);
    e) uma série de outros paralelismos vários, como o tratamento dos pelinhos no fato do Homem e nas lanças dos painéis, as dobras do seu fato e as páginas dum livro dos painéis, etc.

    By Anonymous alexandra_pereira, at 12/4/11 13:51  

  • Alexandra,

    É muito simpático da sua parte que lhe pareça importante conhecer a minha opinião em relação ao "Homem do Copo de Vinho", mas, acredite, a minha opinião sobre tal assunto é irrelevante - ao nível daquelas figuras mediáticas a quem teimam em auscultar as opiniões em horário nobre: eu cá não me meto nisso.

    Boas férias.

    By Blogger otipodashistórias, at 14/4/11 15:21  

  • Já se meteu, e muito bem, que eu ouvi a opinião que deu ao prof. João Miguéis sobre o assunto, faz tempo. Só me faz espécie que não haja quem estude decentemente (ex: com espelhos e pirâmides para detectar truques ópticos, mas sobretudo nas suas implicações prático-plásticas, isto é, fazendo) as pernas verdes cilíndricas (e muito mais metálicas do que as armaduras) de Jorge Afonso, o cubo negro aberto que é o túmulo de Cristo de Francisco Henriques e a geometrização que ele opera da paisagem, a anamorfose que é a corda nos painéis de N. Gonçalves (tantos anos antes de Holbein, the Younger... também o Jorge Afonso adorava espalhar coisinhas no chão...), as asas transparentes azuis, rosa e verdes de Frei Carlos, os negativos de paisagem quase fotográficos do mestre de Abrantes, as paisagens fantasiosas do mestre da Lourinhã, os seus livros e as linhas nos do mestre delirante de Guimarães, as correcções de perspectiva e a luz de Gregório Lopes (e que lá ficarão de novo às escuras, sem poderem ser vistas nem fotografadas, na Igreja de São João Baptista, em Tomar) etc., ou que os nossos historiadores de arte continuem a achar que as caricaturas do mestre da Lourinhã encontradas sob os quadros correspondem a uns quaisquer momentos de ócio que os nossos pintores coincidentemente gostavam de desfrutar ali para as bandas do Convento da Pena - o tal onde Francisco Henriques terá mantido uma telenovelesca "misteriosa relação" com o mestre da Lourinhã -, entre idas à praia, queijadas e imperiais na esplanada a ver os jogos da selecção, ao passo que as caricaturas já são apregoadas como método pedagógico "inovador" para treinar a expressão nas escolas de desenho italianas do século XVII (muito mais tarde, portanto). Cá não. Pode lá ser. Tão primitivos que nós... éramos, claro. Também andamos todos muito curiosos para saber o que é que o professor pinta, que segundo o professor António Marques pinta, embora o professor André Almeida e Sousa só lhe conheça cartazes. Mas nós achamos todos que sim. Boas férias e boas pinturas se for caso disso, claro.

    By Anonymous alexandra_pereira, at 15/4/11 16:44  

  • errata - ali para as bandas da Penha (Longa).

    By Anonymous alexandra_pereira, at 15/4/11 17:16  

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