Cruzamentos

sábado, novembro 23, 2019

Atonalidade e Abstracção: Discografia




Johann Sebastian Bach (1685-1750)
Variações Goldberg: Aria (BWV 988).
Glenn Gould (piano), gravado em 1955 nos estúdios da editora Columbia.
Obra tonal.

Arnold Schoenberg (1874-1951)
Concerto para Piano, op. 42 (1942): 2º andamento.
Rafael Kubelik dir. a Orquestra Filarmónica da Rádio da Baviera. Alfred Brendel (piano).
Obra plenamente serialista (dodecafónica), método atonal já definido nas Peças para Piano, op. 23, de 1923.

Richard Wagner (1813-1883)
Tristan und Isolde (1857-59): acto 1, abertura.
Rafael Kubelik dir. a Orquestra Filarmónica de Berlim.
Uma tonalidade alargada, complexa, afastando-se da harmonia tonal tradicional, usando acordes dissonantes e adiando resoluções tonais.

Bernard Herrmann (1911-1975)
Vertigo: Scène d'Amour (1958)
Muir Mathieson dir. The MGM Studio Orchestra
Wagnerianismo e simulacro.

Claude Debussy (1862-1918)
La Flûte de Pan (Syrinx) (1913)
Philippe Bernold (flauta), Irène Jacob (recitante).
A ultrapassagem da tonalidade pelo modalismo antigo. Primitivismo.

Igor Stravinsky (1882-1971)
Le Sacre du Printemps (1913, vs. 1947).
Pierre Boulez dir. a Orquestra de Cleveland.
Modalismo, "folclore" eslavo, politonalidade. Primitivismo.

Anton Webern (1883-1945)
Seis Bagatelas para Quarteto de Cordas (1911-13), op. 9: primeira bagatela,
Juilliard String Quartet, gravado em Nova Iorque, 1970.
Entre as primeiras 13 notas, 12 são diferentes, num anúncio precoce do método dodecafónico. A importância do silêncio. A brevidade.
No prefácio para a edição da op. 9, escreve Schoenberg: "Estas peças (...) só serão compreendidas por aqueles que acreditam que pelo som só se pode exprimir aquilo que só pelo som se pode dizer" (citado nas notas da edição discográfica  Webern - Das Gesamtwerk - Opp 1-31, Sony S3K 45845, p. 24, p. 66). Uma espécie de música pura, como puros serão a pintura de Malevitch ou o cinema de Dziga Vertov. Origem e finalidade no medium. E uma questão de uma arte em especial: já Duchamp, o Marcel, trocará a espécie pelo género, a interrogação da pintura pela interrogação da arte em geral.

Anton Webern (1883-1945)
Cinco Peças para Orquestra, op. 10 (1913).
Pierre Boulez dir. a Orquestra Sinfónica de Londres, gravado em Londres, 1969.
O início da primeira peça é um exemplo classico da klangfarbenmelodie, ou seja, da divisão de uma melodia por uma pluralidade de instrumentos e, portanto, por timbres diferentes.

Anton Webern (1883-1945)
Sinfonia, op. 21 (1928)
Pierre Boulez dir. a Orquestra Sinfónica de Londres, gravado em Londres, 1969.
Obra plenamente dodecafónica.

Pierre Boulez (1925-2016)
Structures Pour Deux Pianos - Premier Livre (1952).
Alphons Kontarsky, Alois Kontarsky.
Serialismo integral, ou seja, a não repetição não se aplica apenas à altura do som, mas também a outros parâmetros (duração, intensidade, ataque).

Olivier Messiaen (1908-1992)
Anatol Ugorsky (piano).
Catalogue d'Oiseaux (1956-58): Calhandrilha Comum.
Representa uma exploração da atonalidade alternativa ao serialismo.
De alguma maneira, a utilização do canto dos pássaros na obra de Messiaen transforma o som nas doze notas da tradição ocidental - traduz, transubstancia. Desterritorializa, e é, para utilizar outro conceito deleuziano, um devenir animal.
O católico Messiaen, organista da igreja da Sainte-Trinité, talvez lide assim com aquilo que aparece como arbitrariedade e a procure reconduzir à natureza, obra do Criador.
Numa entrevista radiofónica de 1958, diz Messiaen: "Foi num espírito de desconfiança, uma vez que pertenço à espécie humana, que tomei o canto dos pássaros como modelo (...). Apesar da minha profunda admiração pelo folclore do mundo, não acredito que se possa encontrar em nenhuma música humana, por mais inspirada, melodias e ritmos que possuam a soberana liberdade do canto dos pássaros" (cit. nas notas da edição discográfica Olivier Messiaen, Catalogue d'Oiseaux - La Fauvette des Jardins, Deutsche Grammophon 439 214-2, p.7).

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