Cruzamentos

sexta-feira, maio 16, 2008

Duchamp, Man Ray, Picabia

Duchamp Bicycle Wheel Miniature (£55.00 Out of stock)

Até ao dia 26 de Maio, é possível visitar a exposição "Duchamp, Man Ray, Picabia", na Tate Modern, em Londres (21 de Fevereiro - 26 de Maio de 2008). O excelente "site" da Tate oferece vários materiais para conhecer melhor o assunto: explorem-nos.

Outra grande exposição é a que o Met de Nova Iorque dedica a Gustave Courbet (1819–1877). O(s) modernismo(s) nas suas origens. De 27 de Fevereiro a 18 de Maio de 2008.

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14 Comments:

  • Gostava de algum dia escrever (ou que alguém escrevesse por mim...) alguma coisa a ligar com uma correntezinha os diferentes tratamentos da sombra (desde «Tu m'» até Kentridge, Boltanski, Hans-Peter Feldmann... e o retorno da sombra à tela em jovens pintores).
    Outra coisa gira seria fazer uma antologia de "antis" - ex: anti-soberania de Bataille, anti-entropia de Kentridge, anti-conceito de Gil Wolman. A crítica institucional, nobre herança duchampiana, é por cá TÃO necessária - tenho ensaiado umas coisas que envolvem o uso dos livros de visitas e "esquecer" objectos nas instituições, mas não sei se alguém as compreenderia. :)

    By Anonymous alexandra_pereira, at 6/5/11 12:58  

  • Obrigado, Alexandra, pelas suas ideias.

    Quanto às suas acções em instituições públicas, só posso dizer: continue e vá pensando no que faz e em como o faz e relacione com os resultados - mas não deixe de fazer.

    Bom fim-de-semana.

    By Blogger otipodashistórias, at 6/5/11 15:44  

  • Obrigada pelas suas palavras, mas o problema não é tanto eu relacionar com os resultados, a questão é mais que vivemos num país que tem talvez as instituições artísticas mais anti-democráticas de toda a Europa... e ninguém parece, em Portugal, aperceber-se disto (mas é um assunto claramente notado e pensado de fora, de outros países europeus). Há um muro de silêncio à volta das nossas instituições - se alguma coisa estas eleições tiveram de bom é que, como disse alguém em tom jocoso (e não tanto), "vai ser muito bom para a luta": i.e. espero que se acabem muitos "jobs for the boys", mas espero sobretudo que se acabem muitos "jobs for the (system) curators". Por outro lado, os nossos artistas, aspirantes a artistas e agentes artísticos (nem falo de agentes culturais porque me parece haver, por exemplo no domínio das letras, gente muito mais ciente por cá) vivem numa bolha autista: "vivemos numa sociedade à beira da explosão social - mas vamos lá fazer à Bacon, ou à maneira do Freud ou do Schiele..." (nada especificamente do nosso tempo portanto, nada que diga nada sobre onde, quando e como vivemos - ou seja, tudo o mais autista e narcísico possível, e o menos incómodo possível também - "senão ficamos marcados").

    By Anonymous alexandra_pereira, at 7/6/11 14:54  

  • Para terminar, vou contar-lhe umas histórias verídicas. Em 2009 tentou-se, de Londres, divulgar um casal de artistas nos seus quarentas, ex-alunos da Rietveld Academie, uns tipos que usam como atelier antigas fábricas junto ao aeroporto de Amsterdão, com trabalhos cobiçados pelo Jay Jopling, por cá. Isto é sempre a maior vergonha (lá fora) para quem quer que tente. Dezenas de instituições em Portugal foram contactadas por e-mail, com condições ultra-vantajosas para elas - nenhuma santa alma respondeu. Responderam dos museus e galerias italianos (por si mafiosos o bastante - mas nem estes ao nível português), das instituições espanholas. De Portugal nada - tudo autista (e as razões sabem-se: não ter concorrência e continuar por cá a especular bastante, a vender porcaria a 30 mil euros, etc - ou seja, nivelar por baixo). Mas não é o único domínio em que são autistas, nem talvez o pior. Tantos contactos recebidos em Londres (ex: de curadores belgas, americanos, alemães - vindos do director do Museu do Banco Holandês, inclusivé), tanto estímulo e uma pessoa entusiasmada, a pensar naif: "ah, se em Portugal não fazem é porque devem ter falta de contactos e ideias, coitadinhos...". Toca a enviar (eugénia da lâmpada fundida) propostas expositivas, contactos de curadores, propostas de conferências para as principais instituições portuguesas. Nada, nem uma resposta - tudo autista. Toca de enviar contactos de coleccionadores londrinos para uma escola de artes, para os alunos avançados não ficarem dependentes das nossas instituições. Nada - tudo autista. Malogradamente chegada a Portugal, começo em 2010 a ver tudo aquilo a que nem resposta tinham dado ser feito - com nomes de outros. Não foi, de resto, a primeira vez - mas a mais avassaladora. Daí a fazer desenhos e mensagens humorísticas para deixar (documentando com fotos) nos livros das instituições respectivas, foi um passo. Na Europa haviam de rir-se bastante, ou na admissão a qualquer escola de artes londrina, como a Goldsmiths. Por cá dá vontade de chorar. O Meschede (que em Londres já tinha visto o tal casal da Rietveld) veio inaugurar 1+1+1 de sobreaviso e achou estranho que o MNAA tivesse a cor de parede que ele defendia em 2009 + reminiscências do átrio do Hermitage. Na Culturgest a mensagem foi mais directa e apropriadamente deixada sobre a colecção Avalanche da nova Livraria (e por sugestão de quem, eugénia, se lembraram duma nova Livraria por lá 6 anos depois, ou entrevistaram o Yves Gevaert, diante de todos, sem sequer se darem ao trabalho de saber o que ele fez antes das edições?), porque são os que há mais tempo (5/6 anos) recebem propostas expositivas e as usam sem dar crédito a ninguém (mas eu morava lá ao pé, dava-me jeito para ver), sem um olá ou obrigado, e ainda tentando mexer cordelinhos galerísticos para abater a fonte das ideias com que acenam.

    By Anonymous alexandra_pereira, at 7/6/11 15:34  

  • Também se tentou mostrar na Culturgest Bracha Ettinger - mas isso já não convinha (embora convenha em Londres, na Fundação Tàpies, no Pompidou, em São Petersburgo ou em Leeds, onde ensina Griselda Pollock). Porque está viva (ao contrário de Nasreen Mohamedi), tão viva que lhe escrevi uns textos para Helsínquia e organizei o arquivo - e porque é uma grande pintora e sublimemente política. Ou Carla Arocha - que mesmo sendo mulher, artista de Antuérpia (como se gosta, mesmo que as razões para isso sejam as mais superficiais e burguesas possíveis...) e casada com Tuymans, também teria a contra-indicação de me (re)conhecer da sua galeria. Logo, essas ignoram-se. Mas venha o Anthony Huberman (para o cego...ahahah), venha a Sara De Bondt e o Antony Hudeck, venham Jos De Gruyter & Harald Thys (e lá estava Pier Vegner Tosta, curador, outro ex-Rietveld que conheço dos meandros londrinos e do seu projecto Braziliality, nos vídeos deles... porque os expôs na Suíça), venham os benditos senhores da Engage (que tão bom trabalho fazem em Londres) para nos ensinarem como se constroem redes nacionais de mediadores culturais 40 anos depois das deles (e o meu Alentejo lá reconheceu o esforço, com iniciativas novas nos museus da zona) e venha uma Battle of Ideas para os nossos curadores mostrarem publicamente e em inglês quão reaccionários, elitistas e segregacionistas são - em contraponto, por ex., com a gente do teatro e até (pasme-se o povo)... da economia. As propostas expositivas, afinal, não foram tão naives assim... deram desenhos de crítica institucional muito giros, sem esquecer as estrelinhas vermelhas, os jogos de casino (ou Picabia, ou Ernst) nem nada, envelopes sobre a colecção Avalanche (porque eu defendo a avalanche-Ruscha dos nossos curadores institucionais encosta abaixo...), reabilitaram Paula Rego na Whitechapel e trouxeram colecções londrinas a Cascais, deram em mapas nos livros de visita (e exposições sobre mapas que, ainda que decorrentes de propostas exaustivas e pertinentes, conseguiram o prodígio de resultarem em grandes flops curatoriais, extremamente mal organizadas), deram em ROYGBIVs muito mal explicados, em modernos Primitivos (finalmente lá vi o meu Gregório Lopes sem estar às escuras - não é de todo mau, pois não??), possibilitaram a alguns professores serem expostos sem saberem por que razão, de repente, se lembraram (ou quem) deles, deixaram as Irmãs Wilson trazerem as réguas do Kubrick e até fizeram o Duchamp ir propositadamente para Évora, disfarçado com bigode camarada e não barbeado (e não para outro lado fascista qualquer) - e aí muito bem. :)) Sim, as instituições artísticas mais fascistas e anti-democráticas de toda a Europa. Nem em Helsínquia são assim :)

    By Anonymous alexandra_pereira, at 7/6/11 17:48  

  • É que os nossos curadores institucionais são tão estúpidos que usam sugestões expositivas contra eles próprios: até mandam vir quadros dos EUA (e da Europa) para mostrar quão incompetentes têm sido em defender e divulgar o nosso património (até em conhecê-lo devidamente...) e controlar, por ex., que famosas leiloeiras especulem/lucrem com quadros que OBVIAMENTE não são - muito menos para os peritos da leiloeira - do Mestre da Lourinhã (vendendo gato por lebre), ou projecta-se na Gulbenkian "Zen Poem", um dos vídeos históricos que o Vítor Pomar fez em Haia e uma gigantesca descasca indirecta (embora bastante straightforward) de quem propôs - e ainda assim não compreenderam. Como perceberiam então os meus humildes desenhos de crítica institucional (até por ignorância)? É por isso que eu desdenho perigos de "ficar marcada": marimbei-me para isso tudo há muito tempo (cada vez mais, aliás). Mas não eram também os nossos censores famosos pela sua estupidez e não se fugiu de Caxias num Mercedes blindado de Salazar? Pois então: salvo as devidas diferenças e as grandes desproporções, é a mesma lógica a funcionar. Quanto aos nossos artistas, na ignorância involuntária, acobardada ou propositada de tudo isto (não sei, nem me interessa... embora me importe) - e salvo raras excepções -, dormem na forma ou acordam somente para a emigração. E tendo isto dito, agora não o chateio mais.

    By Anonymous alexandra_pereira, at 10/6/11 16:39  

  • ps - de notar que eu nunca ganhei (nem quero ganhar) nada com isto. O meu interesse nisto não é (nem nunca foi) o dinheiro. Interessa-me pensar que tipo de relação têm as nossas instituições com os nossos artistas - e a forma como isto tem prejudicado, ao longo dos tempos, grandemente os últimos, na minha modesta opinião. Mesmo em Londres estive como bolseira - e com uma bolsa que não dava nem para o alojamento -, o resto foi investimento com o meu próprio (bastante) dinheiro, só pela experiência de estar, conhecer e ficar. Isto é, nunca fiz favores nem devi nada a ninguém (e ter trabalhado com gente dos Países Baixos ou artistas refugiados de países como o Paquistão, o Irão e o Iraque por lá foi bastante bom). Isto permitiria a qualquer um verificar o que falta em Portugal: redes, programação sólida e consistente em articulação com temas que estão a ser discutidos internacionalmente, iniciativa, abalar os sistemas de poder, diversidade expositiva juntamente com variedade de mediums (para mim, arte é miscigenação... é raro encontrar em Portugal quem saiba idealizar uma exposição - de maneira óbvia ou escondendo a incompetência com pedantismo...) e exposições que juntem os nossos artistas a nomes internacionais (essencial), galerias geridas por artistas e exposições curadas por artistas (essencial), articulação escola-instituição que volte a legitimar as práticas com um tipo de ensino inovador e devolva o poder aos artistas (tão sólida e fundamental noutras bandas...), diálogo com e livre acesso a curadores e programadores estrangeiros (lá veio o hans ulrich obrist ao carpe diem), gente competente na programação e divulgação, vontade apenas. Em Helsínquia estive à minha conta, depois de muito trabalhar em Portugal (fazendo de tudo um pouco) para isso - e assim que cheguei comecei a escrever numa revista distribuída em todas as galerias locais, nunca nenhuma porta de instituição (artística) alguma me foi propriamente vedada. E eu sou só uma miúda que pinta. Mas que também sabe, por experiência própria, que se poderiam por cá fazer muito mais coisas (e coisas muito mais "ricas" cultural e "artística-visualmente" falando...) apenas com meia dúzia de emails (com transportes pagos da Europa para cá, etc...). Mais: se essas coisas não se fazem, é porque não interessa a "alguém" que elas se façam (as negociatas privadas e comissões entre as instituições e as galerias, a especulação das galerias locais, etc). Porque temos gente a trabalhar que é ignorante e não sabe dar o valor devido aos artistas que temos e tivémos (nem os soube divulgar). Há miúdos portugueses a trabalhar e a dar aulas em faculdades de artes visuais de Hong Kong e a ser expostos em todo o mundo, mas que em Portugal não conseguem ser, ou quando são isso acontece sem meios e em condições vergonhosas. Temos artistas famosos na Suíça e na Bélgica, mas que cá não são expostos. Ou então fazem-se as coisas, mas ficam os usurpadores com o crédito - e sem saberem por que razão (verdadeira) as fizeram, que não seja pavonearem-se entre os seus iguais. Ora, um país assim (como o nosso) começa a intrigar, mesmo para um nativo que esteja a trabalhar de fora (ou sobretudo). E eu sou curiosa. Como dizia um amigo meu, "a curiosidade é o que trama tanto as mulheres como os gatos". :))

    By Anonymous alexandra_pereira, at 21/6/11 18:15  

  • Ou seja, nunca o Jay Jopling me pagou um cêntimo, mas muito prazer me dava dizer piadas mais ou menos espirituosas (dentro das minhas (in)capacidades), só para ouvir as suas felizes gargalhadas sonoras a contrastar com a discrição tímida habitual, em circunstâncias que me divertem até hoje. A minha relação com Tuymans ou a mulher nunca foi comercial, mas de troca de "besitos", medidas de vigas e descrições de passeatas por Valência. Também nunca recebi um cêntimo (muito orgulho nisso) do curador de ambos e do Wim Delvoye em Londres, mas muito me agradava falar com o Ken Pratt sobre a sua Antuérpia natal, as máximas espirituosas da mãe boémia e louca que ainda hoje lhe norteiam - volta e meia - a vida, a sua infância infeliz, Paula Rego ou Joana Vasconcelos (que entrevistou), ou simplesmente da porcaria do tempo, da bicicleta estragada ou de como vão as suas colegas Ettinger e Griselda em Leeds. Nem um cêntimo (e muito orgulho também) pelos textos para Ettinger (pq com muito prazer escrevo sobre a sua arte) ou por inventariar-lhe as obras, nem um cêntimo da Suzanne (outra ex-Rietveld mais nova do que eu, para a galeria da qual trabalhei), mas muito prazer em comer, ir ao cinema e fazer planos com ela (e os mesmos gostos, que bom). Os contactos de coleccionadores que investigava para galerias trocava com um amigo meu, pintor simbolista francês (que ainda os há...) e mestre da encáustica, por jantares franceses e sessões de cinema no telão do seu estúdio - talvez os melhores filmes da minha vida, e por encomenda. Ou com a Viviana Milan, que ensinou vídeo-arte em Veneza com contrato precário, como a maioria dos jovens professores universitários italianos - por gostar muito da sua arte e porque planos conjuntos, discussões notáveis (incluindo sobre a mafiosidade das nossas instituições sul-europeias respectivas) e os mesmos gostos, que bom. Enfim, distribuía por amigos artistas, com desejos dos melhores sucessos. Nem um cêntimo da Rede Europeia de Artistas Migrantes (apoiando ainda refugiados do Pinochet, Iraquianos, Paquistaneses...) para abrir o seu escritório em Londres, depois de conhecer o de Helsínquia. Não é difícil qualquer pintorzinho encontrar o Jean Pigozzi, trocar impressões no sofá com a "olheira" do Saatchi e a sua companheira ou com os críticos das revistas, os curadores da Tate ou os alunos da Goldsmiths sobre o que se está a fazer. Difícil é a ingratidão portuguesa, é esta gente cheia de barreiras e inacessibilidades e tiques presunçosos, que se acha tão importante (gente que nunca pintou paredes nem serviu café a um amigo... suponho), que nem fala a quem os ajudou ou lhes deu - indirectamente - muito dinheiro e prestígio a ganhar, ou que tenta de facto lixar quem os ajudou, o que é mais grave, já que me pisa os calos e pode importar-me mais, ou (regressada) ter de pagar para entrar em conferências e exposições que eu própria idealizei, ponto por ponto, e outros aproveitaram simplesmente para viagens pessoais ao Brasil. Um país assim é muito mais do que irónico... é Kafkiano. Claro que os meus professores nada sabem disto - e ainda bem, porque não subverteu a nossa relação. Nada sabendo, nada esperam. Para eles, eu sou apenas a miúda de Tomar com a família problemática - e quão problemática, mal sonham também. E continuarão a não saber disto por falta de organização e porque não vêem estes comentários: é que a metade dos nossos artistas que não vive na bolha autista, vive no Mundo da Lua. Nem chapando-lhes (por 2 vezes) com as razões (esquematizadas num quadro de giz - escarrapachadas) pelas quais têm visto o que têm visto exposto por cá, sob o título "Papá, o que são Suprematistas?" eles perceberam - acham que são só umas teorias malucas minhas, sem relação com nada que por cá tenham visto exposto nos últimos anos.

    By Anonymous alexandra_pereira, at 22/6/11 11:52  

  • O que fizeram aos contactos que enviei A/C do Castro Caldas, não sei (espero algum dia vir a saber - ou, na condição de actual aluna, se calhar é melhor nem saber...). Ou acham que as condições nas quais se produz não são importantes. Estão enganados (muito enganados, de facto). Ou que a teoria não é também para quem pratica. Idem. Os nossos curadores institucionais e "negociantes" podem fazer tudo e passa incólume - porque o público é acrítico, nada questiona e ignora 2/3 dos bastidores. Os próprios artistas ignoram os bastidores. A minha vida, realmente, é muito irónica. Propus a retrospectiva Queiroz (por pertinência) e quem foi trabalhar para o atelier dele foi o primo do curador-mor, meu colega por feliz ou infeliz coincidência. E se o Delfim Sardo é consultor na Saatchi e não traz colecções Inglesas a Portugal, é porque não quer - afinal de contas, uma miúda em Londres com 3 e-mails consegue que venha (perdendo os créditos, está claro) uma colecção Inglesa a Cascais, a Coimbra - ao Colégio dele - e ao Porto. E se não há descentralização das exposições, é porque os nossos curadores (os que se queixam disso) não querem - pois, se o Duchamp veio a Évora! Nada de novo, portanto, desde os tempos em que me dava na bolha propôr artistas para os Encontros de Fotografia de Coimbra - e, além de não ficar eu com os créditos disso, não ficava o Hermann Pitz com os direitos sobre as suas próprias fotos (por sacanice e falta de profissionalismo). E, alheados de tudo isso, ficávamos os dois sentados a ver passar as gentes na esplanada do Tropical. Nenhuma mudança, em 10 anos, neste nosso Portugal. Agora Pitz vem expôr a Lisboa e, além de definir a arquitectura do espaço, tem de ser ele a orientar as luzes e a escolher a cor da parede - porque o curador português não consegue imaginar outra que não o branco! Nem consegue, já agora, explicar ao pp. primo o que são Neoplasticistas ou Suprematistas (como terá prontamente explicado q galeristas e coleccionadores contactar, como esconder as relações ou como conseguir bolsas chorudas). Enfim, há aqui uma inversão de prioridades que, de certo modo, me aflige.

    By Anonymous alexandra_pereira, at 22/6/11 11:54  

  • E que há razões para nos afligirmos todos, lá isso há...

    Conhece estes verso do Jorge de Sena? "No país dos sacanas, ser sacana e meio? Não, que toda a gente já é pelo menos dois".

    Eu não sei se o nosso problema é o da sacanice. Se calhar é só cobardia e mediocridade.

    Mas o importante é não se apanhar o vírus ou resistir-lhe: senão, os próximos curadores/consultores somos nós ou ficamos a resmungar pela eternidade. Nenhum dos programas me agrada.

    Tenha boas férias.

    By Blogger otipodashistórias, at 23/6/11 23:59  

  • Eu sei que sou resmungona. Resumindo e Concluindo:
    Em Portugal, onde um email, um conceito ou uma ideia não valem absolutamente nada, as novas tecnologias permitem que sejamos hackers/piratas de exposições. As coisas funcionam troca por troca, e é essa troca que não interessa cá. Eis então como fazer alguma coisa pelas artes em Portugal a partir de Londres sem ganhar um tostão, mas sobretudo sem reconhecimento algum (isso então, é sem dúvida o mais fácil...):
    - Como se traz o Duchamp a Évora?
    a) recebe-se um e-mail da colecção europeia respectiva a disponibilizar a data X para uma pequena exposição de Duchamp que andou por aí, com condições muito vantajosas, e pede-se imediatamente para reservarem a data para Évora, que os contactará (se o email fosse orientado para Évora, ter-se-ia perdido a oportunidade - por lentidão/pastelice das nossas instituições...);
    b) envia-se um email para Évora a pedir para contactarem a colecção e reservarem a data X, para que possa vir a Portugal.
    - Como se traz uma colecção do British Council a 3 cidades portuguesas?
    a) sugere-se à Whitechapel uma escolha (desta vez, por parte da pintora Paula Rego) de obras da colecção do British Council, na sequência dum conjunto de exposições que têm sido realizadas em Inglaterra, pelo British Council, com esse conceito por trás (a escolha é dum artista);
    b) Oferece-se, em troca, uma tournée da colecção (mas ampliada) por Portugal;
    c) Contacta-se a Casa das Histórias e sugerem-se mais 2 cidades (lá está a importância da descentralização);
    d) E assim se reabilita a Paula na Whitechapel - depois de um pouco esquecida pelos curadores britânicos, que nem sabiam se ela ainda vivia em Londres - e se traz uma colecção britânica a 3 cidades portuguesas.
    - Como se expõem os Primitivos Portugueses?
    a) Sente-se a pertinência, depois das expos Primitivos em Paris e em Londres nos últimos 6 anos;
    b) Notam-se as características que os distinguem dos outros "Primitivos" europeus;
    c) Sugere-se uma cor de parede defendida pelo Meschede e por alguns outros para as paredes da National Gallery (já em 2009);
    d) têm de se sugerir 1. uma sala de documentação (por causa do aproveitamento político da coisa, para que o público tenha alguma crítica e saiba, tendo em conta a história dos Primitivos em Portugal, tanto separar as águas como reconhecer a pertinência da exposição) 2. reflectografias e espectroscopias de infravermelhos (que ninguém parecia fazê-las em Portugal) 3. as partes em que foi dividida a exposição 4. a parceria com Évora (importante pelo núcleo dos Flamengos e pelas análises que os conservadores tinham de fazer - eis a importância das redes e da descentralização);
    e) não esquecer de planear dias de entrada gratuita até tarde e visitas guiadas temáticas como no Hermitage (pequena ironia).

    By Anonymous alexandra_pereira, at 28/6/11 19:02  

  • Há uma 3ª via: que os cargos de curador institucional sejam rotativos e não postos partidários ou vitalícios. E uma 4ª: resmungar para a eternidade PRECISAMENTE pelo facto de termos de ser nós os curadores - como barafustou o Pitz na sua inauguração em Lx dizendo, entre outras coisas, que "se os curadores ganham muito mais do que os artistas, deve ser para fazerem alguma coisa...". Também estava o Michael Snow... nada vergonhoso. Valha-me minha Santa Kristeva.
    Pausa. O Jorge de Sena deve ser para me aconselhar ao exílio (ou como se diz na minha terra: o Lopes tem Graça, Agostinho). Enquanto há vida, há barafustanço - e o barafustanço do Pitz não tem corrido nada mal. Mas deve ser por ser homem e ser alemão!
    Também se lembrava o Pitz de Coimbra e o Meschede queria saber quem teve a ideia da residência do Pitz lá, com aquele tema. É que já nesse tempo usávamos o "Museum as Muse". Graças a Deus, a Universidade de Coimbra é o arquétipo das nossas instituições fascistas e estúpidas (e eu sei, porque lá estudei) - tornou-se numa espécie de Instituto Justiça e Paz nos tempos do Cardeal Cerejeira, mas alargado e burocratizado -, de maneira que não se lembrou de ir à Alemanha reclamar os direitos das fotos à galeria de Berlim onde fizeram furor como "seminais". Tb não desdenho os artistas como curadores - não sei por que hão-de ser menos competentes do que um sociólogo, um rapaz com um cartão partidário ou um gestor. Mas "that was my whole point": se queremos ter curadores (e eu só falei dos "postos" institucionais, não de todos), então é melhor formá-los como deve ser (como fazem na Rietveld ou em Leeds, que parece que têm duas das melhores escolas "disso" na Europa) do que não saberem o que andam a fazer, os nossos Comissários de bordo. Quanto a mim, eu só quero ser uma miúda que pinta e se tiver o que comer ou dinheiro para as tintas já é uma grande sorte. A maior parte dos dias sou azarada.

    By Anonymous alexandra_pereira, at 29/6/11 14:50  

  • - Como se faz o Francisco Tropa ser devidamente reconhecido, mais exposto lá fora e mais vendido?
    a) tem de se começar por ensinar às nossas instituições que podem vender à Tate quem esteve em Veneza - que não sabiam! (ou como diz o Francisco da Mata, um artista nosso com sucesso na Suíça/Bélgica, "depois de Veneza, até porta-chaves do FC Porto vendes");
    b) sugere-se à Tate a compra de João Maria Gusmão e Pedro Paiva (por causa de Veneza);
    c) Sugere-se à Graça Brandão que contacte a Tate nesse sentido (compraram 13 filmes);
    d) Tem de se cuidar que seja o Sérgio Mah o curador da Bienal e sugere-se que escolha - nada difícil para ele... expôs a Assembleia de Euclides em 2005! - o Francisco Tropa para a Bienal de Veneza (e aleluia: tarde, mas fez-se luz nas cabecinhas portuguesas, com um artista que interessa bastante à própria Bienal!);
    e) Ainda há que cuidar de sugerir à Quadrado Azul a venda do Francisco à Tate - e à Tate a compra. E lá começam os nossos artistas a ter penetração em Inglaterra... O que vale ao Francisco (e aos outros) é que isto é tudo gente muito bem mandada em Portugal - desde que envolva cifrões para eles. Por outro lado, não me parece que a Tate vá recusar comprar um ex-aluno do Royal College que esteve em Veneza... nem outros expô-lo - se as coisas forem bem aproveitadas e bem feitas.
    - Como se consegue que o Wandschneider faça uma Retrospectiva Queiroz?
    a) Envia-se-lhe uma quantidade significativa de contactos de curadores estrangeiros, para ele poder pavonear-se à vontade, + o programa detalhado dumas conferências sobre Mediação, para o pessoal do Serviço Educativo poder pavonear-se também (perante a gente da Engage, de São Paulo, do Thyssen e da Documenta) e ir ao Brasil;
    b) Aproveita-se e sugere-se uma Retrospectiva Queiroz, uma livraria temática (tendo em conta outros contactos enviados também) e mais umas quantas coisas (incluindo co-curadoria de expo com um artista estabelecido).
    -Como se faz os nossos Professores exporem na Gulbenkian?
    a) Altera-se profundamente o conceito da pequena exposição "Teachers" (Londres, 2009), de maneira a serem os artistas em actividade (muitos) a escolherem os professores que os marcaram - assim sendo, muito difícil prever que a esmagadora maioria dos escolhidos teriam passado pelo Ar.Co...!! (nop)
    b) E assim se liga a Escola à Instituição, devolvendo simultaneamente algum poder aos artistas, tornados agentes activos na escolha do que é exposto;
    c) Aproveita-se e sugere-se irmãs Wilson, Ana Vidigal, 9, Zen Pomar e Miguel Palma.

    By Anonymous alexandra_pereira, at 29/6/11 16:29  

  • - Como se faz o Cabrita Reis expôr na Bélgica (M de Louvain) e em França?
    a) enviam-se para as instituições belgas/francesas contactos de curadores alemães e ingleses + coleccionadores americanos (muito importante - convêm-lhes bastante...);
    b) sugere-se, em troca, uma itinerância da exposição do Cabrita Reis;
    c) com o bónus de os ex-alunos Ar.Co que trabalham no atelier dele continuarem a ter o que fazer e não terem de frequentar o Centro de Emprego de Sintra.
    - E ainda deu para brincar com a Casa das Histórias (lá andam os nossos professores a dar workshops, lá foram o Wandschneider e o Marchand - que nome adequado - explicar a diferença entre curador, comissário e programador - não estava certa de que soubessem... sim, as redes são importantes!), o CCB (Gémeos, Cachola, Butler, Longo, Mapas e Jaar) - donde o Jean-François saiu faz pouco, por razões pessoais ao que consta - e o Carpe Diem (Hans Ulrich Obrist, Michael Hardt e Oldenborgh). Isto é tão giro que até deu para propôr uma 2+2 mesmo ao lado de quem alardeou tão alto as 1+1+1 e uma "Estratégia ou o Dom da Ubiquidade" (com outro tema, mas título super-irónico: estratégia é o que falta - e muito - em Portugal, não talento, ou como estar em Londres e Lisboa ao mesmo tempo), curada por outra pessoa e incluindo uma ex-colega minha.
    Quando isto perde a piada toda é se eu lhe disser, no final, que estou a viver da ajuda do banco alimentar (enfim, subvivo bastante mal) e nem um obrigado.
    Diga-me lá se isto tudo não podia ser uma obra de arte? Já vi algumas com bastante menos sentido... Eu não tenho a culpa; a maioria dos artistas entra no palco pelo lado limpinho e deslumbrante da audiência, ou pelas "cunhas laterais"; eu entrei pelos bastidores e, tendo ajudado a construir o "scenario" (como diria o Francisco Tropa), já vi quais as madeiras que estão podres.
    Eu sou só uma miúda que pinta e só quero ser uma miúda que pinta - mas num país onde os artistas que o merecem possam ser devidamente reconhecidos e ter uma carreira internacional consistente, não toldada e entravada pela incompetência alheia. Boas férias

    By Anonymous alexandra_pereira, at 29/6/11 16:29  

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