"Cercados de paredes de vidro"
A adorável 0- chegaria daí a uma hora. Sentia-me excitado. Ao chegar a casa, corri para o gabinete da vigilante, mostrei o bilhete cor-de-rosa e recebi um certificado que me conferia o Direito às Persianas. Só temos esse direito nos Dias Sexuais.Ievegueni Zamiatine (1884-1937), Nós, Lisboa, Antígona, 1990, p. 27. O texto foi escrito, em russo, em 1920. Existe, "online", em versão integral, em inglês, idioma em que foi publicado em 1924.
Normalmente, vivemos cada instante à vista de todos, sempre banhados em luz e cercados de paredes de vidro que parecem feitas de ar refulgente. Nada temos a esconder uns dos outros. Esta forma de viver, assim às claras, facilita a difícil e nobre missão dos guardas. É muito possível que as habitações opacas dos antigos estejam na origem da sua triste psicologia celular. "A minha (sic) casa é a minha fortaleza"... De facto, eles puxavam muito pelo miolo!
Edward Hopper (1882–1967), Office in a Small City, 1953, óleo sobre tela, 71.1 x 101.6 cm, The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque
Etiquetas: Arquitectura, Cinema, Hopper, Literatura, Tati, Textos, Zamyatin
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