Cruzamentos

quarta-feira, abril 22, 2009

Luigi Russolo (1885-1947), Music [/Música], 1911, óleo sobre tela, 225 x 140 cm, Estorick Collection, London

Para robustecer as bases de teoria musical começadas a construir na última aula, poderá consultar-se entradas anteriores: "Música e modernismos 1: atonalidade e abstracção" (2008), faz o ponto da situação, no que diz respeito à informação veiculada através dos Cruzamentos.

É vasta a bibliografia sobre o assunto: gosto de usar dois livros editados em Portugal, um deles de autor português, muito fáceis, ainda (segundo creio), de encontrar. Refiro-me a:
  • Fernando Lopes Graça, "Bases Teóricas da Música", Obras Literárias. Opúsculos (1), Lisboa, Editorial Caminho, s.d. [1984], pp. 11-134. O texto foi publicado, pela primeira vez, pela Biblioteca Cosmos, de Bento de Jesus Caraça, em 1944.
  • Otto Károlyi, Introdução à Música, s.l., Publicações Europa-América, s.d. Trata-se de um texto de 1965.
Círculo de Quintas: depois de termos pensado cada tonalidade como um território autónomo, reinos dominados pela tónica, transformando em estrangeiros todas as notas que não lhe pertencem, este dispositivo teórico permite-nos pensar esses territórios em relação uns com os outros, uma vez que o 5º grau de cada tonalidade, a dominante, uma espécie de grão-vizir, oferece, ao tornar-se tónica da sua propria escala (rei do seu reino), a tonalidade mais próxima daquela em que era a dominante, bastando acrescentar-lhe um meio-tom para encontrarmos o novo território tonal. Um exemplo: Sol é dominante da tonalidade de Dó Maior - se quisermos definir a tonalidade de Sol Maior, basta acrescentar um acidente à escala, tornando Fá em Fá sustenido. Todas as outras notas são iguais à da tonalidade de Dó Maior - só este Fá, agora subido de meio-tom (sustenido, portanto) é um estrangeiro em relação ao reino de Dó Maior, onde Sol era a dominante (o grão-vizir).

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quarta-feira, abril 15, 2009

Abstracção, movimento, música, máquina: cinema


László Moholy-Nagy (1895-1946), Ein Lichtspiel. Schwarz-Weiss-Grau, 1930.

O cinema foi entendido, por vários criadores do primeiro quarto do século passado, como a possibilidade de realizar imagens em movimento com um valor inerente, isto é, que não estivessem ao serviço de uma narrativa. Imagens luminosas no plano da tela, do ecrã, movendo-se ritmicamente, registando, ou não, fragmentos da realidade pré-existente, reconhecíveis, ou não, de origem fotográfica - ou não. O cinema oferecia uma espécie de pintura em movimento, com elementos formais facilmente integráveis na tradição pictórica modernista (a bidimensionalidade da tela, a primazia dos valores luminosos, mas, também, as fragmentações, em sequência, através da montagem, e no plano, bem como uma visão mecânica e nova). Uma pintura que mexe é uma pintura com ritmo. Uma pintura com princípio, meio e fim é uma pintura com uma duração pré-determinada. Uma pintura rítmica que começa e acaba independentemente do nosso olhar é uma espécie de música.

Hoje, no sótão do Ar.Co, em Lisboa, a partir das 21 horas. Mais informação nas entradas anteriores dedicadas ao tema, sobretudo em "Abstracção e cinema: pintura em movimento, música visual" (2007) e "Modernismos e cinema 2" (2008).

O texto de Christine Noll Brinckmann, "Collective Movements and Solitary Thrusts: German Experimental Film 1920-1990", Millenium Film Journal, No. 30/31, Fall 1997, é mais um elemento a juntar à nossa bibliografia sobre o assunto.

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